Afastado do Tribunal de Justiça (TJTO) após a Operação Máximus, o desembargador Helvécio Brito de Maia Neto resolveu comentar o episódio, que considera ser uma “violência real e jurídica”. A ação da Polícia Federal deflagrada na sexta-feira, 23, apura suposta negociação para compra e venda de decisões e atos jurisdicionais, bem como condutas que visam lavar o dinheiro oriundo da prática criminosa investigada. Filho do magistrado, Thales André Pereira Maia também foi alvo.
VIOLA O QUE HÁ DE MAIS VALIOSO: A PAZ DE ESPÍRITO
Com 35 anos de magistratura, Helvécio Brito garante sempre ter se pautado “na ética, na transparência e no respeito às leis”. Ao listar poucos bens adquiridos durante esta carreira – um apartamento e um veículo -, o desembargador afastado relata o maior impacto da ação policial na sua avaliação. “A operação que me surpreendeu, entretanto, não tinge nada material, mas viola aquilo que há de mais valioso para qualquer ser humano: a paz de espírito”, afirma. Apesar do caso, o magistrado mostrou-se tranquilo. “É com profunda tristeza que enfrento este momento, mas com a mesma serenidade e confiança de que a verdade prevalecerá. […] Confio na Justiça e na imparcialidade dos nossos sistemas legais, certos de que, ao final, todos os fatos serão devidamente esclarecidos”, resume.
SEM SEQUER PODER SE DEFENDER
Em outra frente, o magistrado critica o modo como o caso está sendo tocado, isto porque afirma não ter conhecimento dos autos. “Não posso sequer oferecer uma defesa, porque a defesa pressupõe uma acusação com fatos, e esta, se existe, não apareceu às luzes do processo nem da investigação. Aguardamos com expectativa o andamento do processo para que possa, de maneira plena, exercer meu direito à defesa e esclarecer qualquer dúvida que porventura tenha surgido”, garante.
ATINGIDO BRUTALMENTE PELA PRISÃO DO FILHO E CONDENADO AO SILÊNCIO
Helvécio Brito também lamenta a prisão de Thiago André, elencando mais questionamentos à operação. “O que mais me fere é o envolvimento do meu filho, que se encontra detido sem audiência de custódia e sem que se saiba qual é o libelo do acusador ou os fatos do inquisidor. Sou até agora a maior vítima dessa trama, atingido brutalmente pela prisão de meu filho, enquanto sigo condenado ao silêncio, com a imprensa sabendo mais do que eu, que deveria ser o primeiro a saber”, acrescenta.
ALGO DE ESTRANHO EXISTE NO REINO DA DINAMARCA
O desembargador afastado segue para a ofensiva na nota, e chega a fazer referência à Hamlet, de Shakespeare. “Já foi dito por um conhecido jurista italiano que ‘a democracia é o poder em público’. É da essência do poder ditatorial ocultar-se. Ou já não vivemos numa democracia, ou algo de estranho existe no reino da Dinamarca. Apesar de estar abatido por essa violência sem precedentes, aguardo confiante que o tempo, senhor de todas as angústias e pai da verdade, trará à tona a justiça que sempre guiei em minha trajetória”, escreve ainda.
Leia a íntegra da nota:
“Como já foi amplamente divulgado na imprensa em geral, na última sexta-feira, fui submetido a medidas judiciais que constituem uma violência real e jurídica.
Após 35 anos de exercício na magistratura, sempre pautei minhas ações na ética, na transparência e no respeito às leis. Ao longo desses anos, tudo o que consegui foi pouco mais que um apartamento, onde moro atualmente, e um veículo de uso próprio. A operação que me surpreendeu, entretanto, não tinge nada material, mas viola aquilo que há de mais valioso para qualquer ser humano: a paz de espírito.
É com profunda tristeza que enfrento este momento, mas com a mesma serenidade e confiança de que a verdade prevalecerá. Reafirmo meu compromisso com a verdade e estou à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com as investigações. Confio na Justiça e na imparcialidade dos nossos sistemas legais, certos de que, ao final, todos os fatos serão devidamente esclarecidos.
Até o presente momento, não tenho ciência sobre a razão pela qual fui afastado das minhas funções. Não posso sequer oferecer uma defesa, porque a defesa pressupõe uma acusação com fatos, e esta, se existe, não apareceu às luzes do processo nem da investigação. Aguardamos com expectativa o andamento do processo para que possa, de maneira plena, exercer meu direito à defesa e esclarecer qualquer dúvida que porventura tenha surgido. Estudiosos já disseram que o homem é “um ser que fala”. Eu, no entanto, não tenho o que falar!
O que mais me fere é o envolvimento do meu filho, que se encontra detido sem audiência de custódia e sem que se saiba qual é o libelo do acusador ou os fatos do inquisidor. Sou até agora a maior vítima dessa trama, atingido brutalmente pela prisão de meu filho, enquanto sigo condenado ao silêncio, com a imprensa sabendo mais do que eu, que deveria ser o primeiro a saber.
Já foi dito por um conhecido jurista italiano que “a democracia é o poder em público”. É da essência do poder ditatorial ocultar-se. Ou já não vivemos numa democracia, ou algo de estranho existe no reino da Dinamarca. Apesar de estar abatido por essa violência sem precedentes, aguardo confiante que o tempo, senhor de todas as angústias e pai da verdade, trará à tona a justiça que sempre guiei em minha trajetória.
Tenho plena confiança de que, com a verdade à tona, minha história de dedicação ao serviço público será devidamente respeitada e reconhecida. Agradeço, de coração, às manifestações de apoio e solidariedade que tenho recebido de amigos, colegas e cidadãos que conhecem minha integridade. Este é um momento difícil, mas estou firme e sereno, certo de que a verdade prevalecerá, reafirmando meu compromisso com a honestidade e a retidão que sempre guiaram minhas ações.”
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